JORNAL ZAMBEZE ENTREVISTA JOÃO TIMANE ARTISTA PLÁSTICO MOÇAMBICANO ... “Representações do passado moldaram-me e hoje em cada pincelada faço realismo” – João Timane

 JORNAL ZAMBEZE ENTREVISTA JOÃO TIMANE ARTISTA PLÁSTICO MOÇAMBICANO


 “Representações do passado moldaram-me e hoje em cada pincelada faço realismo” 

– João Timane


SILVINO MIRANDA

João António Timane, ou simplesmente João Timane, nasceu no bairro do Aeroporto e é praticante de artes plásticas. Cresceu vendo arte, mas tinha como sonho tornar-se piloto porque via os artistas a ser ridicularizados pela sociedade. Mas acabou caindo nas artes porque não teve outra opção, os irmãos o incentivavam a frequentar a escola de artes pois tinham percebido a sua queda pelo desenho. Formou-se pela Escola Nacional de Artes Visuais de Maputo. Frequentou o curso de Engenharia Geológica na Universidade Wutive, não o tendo concluído. Atualmente é estudante de Marketing no Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique. Lecionou Pintura Artística às crianças do bairro do Aeroporto inspirado nos ideais do grande mestre Malangatana, em Maputo, cidade moçambicana onde vive.

*Gritos de Palma*  POEMA DE HELIO ZALDE E PINTURA DE JOÃO TIMANE
ARTISTA JOÃO TIMANE


“Quando chego à escola de artes tive um trauma porque nunca tinha visto desenhos tão perfeitos, era uma grande surpresa nos meus olhos, com retratos muito bem feitos, porque os artistas do meu bairro não faziam retratos, eram mais do abstrato. As representações não existiam e na escola de artes deparei-me com representações, o que fez com que eu treinasse muito. Quase um mês fiquei simplesmente a treinar e aperfeiçoar as minhas habilidades para não decepcionar”, diz o artista. Para Timane, as artes plásticas são importantes, principalmente nesta altura da pandemia em que as pessoas estão muito desiludidas e sem rumo um artista pode fazer uma obra que motiva as pessoas a acreditarem que isto é algo passageiro, tanto que no passado já aconteceram coisas piores. É também usada a arte para ensinar as pessoas a se precaver da Covid-19, ao mesmo tempo que se torna um objecto de decoração da casa, a arte representa uma sociedade, num momento, para que as outras gerações possam conhecer a vida que se vivia noutra altura. Timane afirma que a paixão pela arte começa quando faz uma visita ao Museu Nacional de Arte, onde teve a oportunidade de conhecer as artes praticadas antes da Independência e muito bem representadas. Este acto teve uma grande repercussão na forma como olhava para a arte e a partir desse momento tudo mudou na sua vida. Quis ser como os outros artistas renomados, como Malangatana, Naguib, Chichorro. “Fui fortemente influenciado por dois artistas moçambicanos, nomeadamente; Naguib e Chichorro, que foram as minhas grandes inspirações e marcaram-me muito pela beleza. O jeito como eles tratavam o desenho em cada pincelada era uma coisa genuína para aquele tempo, então aquilo chamou a minha atenção, porque também tenho esse lado de não fazer para terminar. Não faço só traços, sou muito detalhista”, acrescenta.


*Gritos de Palma*  POEMA DE HELIO ZALDE E PINTURA DE JOÃO TIMANE
JOÃO TIMANE





“As pessoas que queiram entrar na arte não podem fazê-lo com o objectivo de ficar rico, o melhor é não contar muito com isso. Às vezes é uma sorte que cai na pessoa. Devem continuar a fazer arte, mas sempre tendo um negócio alternativo. Geralmente os que reclamam não têm um negócio alternativo, dependem exclusivamente da arte, o que faz com que isso fique mais complicado. Por exemplo, numaaltura como esta da pandemia as coisas ficaram mais complicadas para todos. Claro que vão ficar ricos não necessariamente por causa da arte, mas por outro negócio, mas devem continuar a seguir o sonho de ser artista” 

Timane fez a sua primeira exposição em 2016 na Europa, concretamente em Portugal, onde participou no lançamento de um livro no qual fez as ilustrações.Foi um livro de Fátima Negrão.No âmbito desse lançamento fez a exposição das suas obras, sendo essa a exposição que mais sucesso teve, pois trata-se de uma zona onde a maior parte das pessoas que lá vivem nasceram em Moçambique. No início de 2018 foi para o Brasil, onde participou de uma exposição de artistas contemporâneos africanos e alguns da lusofonia, onde a sua obra foi figura de cartaz Em 2018, João Timane ganhou o Prémio Mozal, na sua primeira edição. Pela primeira vez, a maior galeria de Moçambique (Kulungwana), em parceria com a Mozal e apoio do Ministério da Cultura, decidiu premiar os artistas porque notaram o seu desaparecimento. E sendo um ofício que as pessoas abandonavam por acharem que estavam a ser ridicularizadas e sem espaço, essa premiação era como se fossem prémios awards. Nos prémios constava a obra mais popular, o artista mais popular, havendo algumas categorias, como fotografia, música, artes plásticas, dança, entre outras. Retornou a Portugal em 2019, onde fez mais exposições. Em Moçambique fez exposições na Mediateca e no Auditório do BCI. Também participou em exposições colectivas. “Eu não tive uma influência de Malangatana logo no início, tendo sido ao longo do tempo. Os moçambicanos que olharam na minha obra sentiram a presença de Malangatana e isso de certa forma lhes tocou fundo. Tive grande sucesso naquela exposição”, sublinha. No seu entender, a Covid-19 chegou de surpresa e o nosso país não tem condições para gerir este fenómeno, e de certa forma nesta briga entre o Ministério da Cultura e os artistas não haverá uma solução. 

Melhores artistas plásticos de moçambique. João Timane.
JOÃO TIMANE, ARTISTA PLÁSTICO MOÇAMBICANO.


Segundo o artista, o Ministério da Cultura não tem dinheiro para dar a todos os artistas, se houvesse um fundo para os artistas este devia ser alocado aos artistas mais velhos. “Eu acho que devia se apoiar os artistas mais velhos porque nós jovens ainda temos algumas saídas, porque alguns artistas mais novos ainda não pagam as contas em casa. Não existe uma forma de reclamação, de certa forma chegará a nossa vez. Tentou fazer-se algumas coisas com as redes sociais, mas para alguns artistas plásticos mais velhos é complicado e alguns não têm tanto domínio. Pretendo ajudar alguns a divulgarem o seu trabalho nas redes sociais”, afirma. Por ter começado muito cedo a fazer arte, Timane enfrentou várias barreiras por ser muito novo, “naquela altura não havia jovens da minha idade. Quando procurava apoio em galerias era barrado só pelo facto de ser tão novo, as galerias nem olhavam para o meu trabalho”. De tanto persistir e não desistir, o artista teve então a oportunidade, na altura, de expor na Mediateca do BCI, tendo sido foi convidado depois de passar por uma aprovação. Nessa exposição só foram compradas as suas obras e uma obra comprada por Marcelino dos Santos, de um outro jovem. A partir daí o BCI convidou-o a fazer uma exposição individual, mas tudo começou numa exposição colectiva de alunos das artes visuais. Anualmente faz-se uma exposição de todos os melhores alunos na escola das artes. “As pessoas que queiram entrar na arte não podem fazê- -lo com o objectivo de ficar rico, o melhor é não contar muito com isso. Às vezes é uma sorte que cai na pessoa.

Melhores artistas plásticos de moçambique. João Timane.
Entrevista de João Timane ao Jornal Zambeze.




Devem continuar a fazer arte, mas sempre tendo um negócio alternativo. Geralmente os que reclamam não têm um negócio alternativo, dependem exclusivamente da arte, o que faz com que isso fique mais complicado. Por exemplo, numa altura como esta da pandemia as coisas ficaram mais complicadas para todos. Claro que vão ficar ricos não necessariamente por causa da arte, mas por outro negócio, mas devem continuar a seguir o sonho de ser artista”, aconselha.

 



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